Maratona: 100 anos de histórias fantásticas

Maratona: 100 anos de histórias fantásticas

A cidade italiana de Carpi prepara homenagem para o centenário do feito de um de seus mais ilustre cidadãos, o maratonista Dorando Pietri. Em breve, vai inaugurar uma estátua em homenagem ao corredor (na foto da Reuters, operário trabalha na obra).
Pietri foi o não-vencedor da primeira maratona de 42.195, distância que faz cem anos agora. Na prova realizada em Londres, nos Jogos de 1908, o percurso foi esticado para que os atletas terminassem em frente aos camarotes reais. Conta a lenda que, em 1904, o bigodudo Pietri trabalhava tranqüilamente quando corredores disputando uma prova de 10 km passaram em frente à loja. Ele não teve dúvida: tirou seu avental e saiu a perseguir o líder da corrida. Os dois terminaram lado a lado, e Pietri ficou fissurado. No ano seguinte, venceu uma prova de 30 km em Paris; foi campeão italiano em 1907 e conseguiu sua classificação para a maratona de Londres-08 depois de correr em 2h38 uma prova de 40 km em Carpi.
No dia 24 de julho de 1908, ele e mais 55 atletas largaram na maratona olímpica, num dia anormalmente quente para os padrões londrinos. O italiano começou na boa, mas resolveu atacar depois da meia-maratona, alcançando o segundo posto na altura do km 32. Aos poucos, foi percebendo que o líder, o sul-africano Charles Hefferon, fraquejava. Ligou o turbo e mandou ver, conquistando a liderança a cerca de dois quilômetros do estádio olímpico. Quando chegou ao estádio, a massa o aclamou. Mas o esforço cobrou seu preço: ele estava meio baleado, e pegou a direção errada. Foi auxiliado por oficiais da prova, e caiu pela primeira vez. Com ajuda, levantou e seguiu, em frente a 75 mil espectadores emocionados. Ele ainda caiu várias vezes e cruzou a linha de chegada nos braços de auxiliares (imagem abaixo). De seu tempo oficial de 2h54min46, dez minutos foram usados nos últimos 350 metros. A medalha de prata foi para o americano Johnny Hayes, mas a equipe dos EUA entrou com reclamção contra o resultado e conseguiu reverter o quadro: Pietri foi desclassificado por ter terminado a prova com ajuda de terceiros. Mas, no coração de todos, foi o vencedor. Ganhou da rainha Alexandra uma taça de prata, com placa dourada. A homenagem teria sido sugerida pelo escritor Arthur Conan Doyle, criador do detetive Sherlock Holmes, que trabalhava como jornalista cobrindo o evento.
Pietri se tornou uma celebridade. O compositor Irving Berlin criou uma música, "Dorando", em homenagem ao atleta, que foi convidado para se apresentar em corridas nos EUA. Em novembro de 1908, enfrentou um desafio contra Hayes, no Madison Square Garden, em Nova York, e deu um pau no americano. Para não deixar dúvidas, ganhou de novo em outro desafio semelhante, em março do ano seguinte.

Ainda fez sucesso e ganhou muito dinheiro em corridas, considerando os padrões da época. Virou empresário, mas não teve muita sorte. Acabou dono de uma oficina de automóveis em Sanremo, onde morreu em 1941, aos 56 anos. Seu feito está hoje nos anais da história olímpica.

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