Dores nos pés podem ser sintomas da Fascite Plantar

Dores na planta dos pés, especialmente na região do calcanhar, podem ser sintomas da chamada Fascite Plantar, que é o tema do “Saúde e Prevenção” dessa edição. Essas dores podem persistir pelo dia todo, sendo comuns nos primeiros passos pela manhã, ao sair da cama. Quem explica os detalhes da doença e de seu tratamento e prevenção é o professor Antonio Vitor de Abreu, professor adjunto do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da UFRJ.




O professor explica que a inflamação ocorre na região da fascia plantar, que é uma aponeurose, ou o tecido que recobre a musculatura da planta do pé e se estende do calcâneo, osso que forma o calcanhar, até os dedos. A região atingida continua com o tendão de Aquiles, que faz parte da panturrilha e cruza duas articulações: o joelho e o tornozelo. “Esse conjunto tricipto-calcâneo plantar, que é formado por batata da perna, tendão de Aquiles, calcâneo e aponeurose, indo até os dedos, é importantíssimo, porque é ele que permite ao indivíduo correr, andar, saltar de forma normal. Ele é muito solicitado por ser uma musculatura antigravitacional, ou seja, que suporta o indivíduo de pé, indo contra a força da gravidade”, afirma o médico.



O professor afirma que o indivíduo que desenvolve a Fascite Plantar quase sempre apresenta um encurtamento desse conjunto tricipto-calcâneo plantar. “Examino os pacientes que chegam com essa dor e sempre encontro um tendão de Aquiles mais curto. Esse pé não se flexiona facilmente. Tem um tendão de Aquiles mais curto e, consequentemente, uma aponeurose mais curta.”



Pés com essa característica, ao serem submetidos a atividades físicas que exijam muito deles, como esportes e determinados trabalhos, como o de carteiro, por exemplo, tem a chance de mais cedo, apresentarem dor nessa região. Entretanto, a fascite plantar pode ocorrer também em pessoas que não realizam essa atividade, por conta do atrito sofrido pelas regiões de tendão. Com isso, aparecem tendinites e calcificações.



Prevenção



A prevenção dessa doença tem sua base em uma atividade altamente recomendada e sem grandes contra-indicações: o alongamento. “Se há a presença dessa estrutura mais curta, deve-se alongar. Nem todos percebem isso cedo”, explica o ortopedista. O problema é observado após o teste do grau de flexão dorsal do tornozelo, ou seja, o quanto o pé passa, acima dos 90 graus, com o joelho estendido. “Muitas vezes surpreendemos esse problema de flexibilidade em jovens e orientamos”, emenda. Outras características, como andar saltitando, meio na ponta dos pés, indicam um encurtamento desse tendão de Aquiles.



O professor reforça que qualquer pessoa que pratique alongamento, com certeza, está prevenindo a fascite plantar. A prática é especialmente recomendada antes de atividades repetidas, como a musculação. Para os atletas, é obrigatória. “Nos atletas, percebe-se o problema mais facilmente. Entretanto, às vezes o alongamento feito pelo atleta é pouco para ele, devido ao tanto que a atividade exige”, explica o médico.



O alongamento, além de prevenir, também é o tratamento principal para aqueles que apresentam a doença. “O tratamento é à base de fisioterapia, com alongamento, que é fundamental. Mas, não basta alongar. Deve-se também fortalecer essa musculatura, para que o paciente não fique com um tendão curto e forte ou flácido e fraco”, descreve o professor, que acrescenta que são ministrados também antiinflamatórios hormonais (corticóides) e não hormonais (antiinflamatórios comuns).



- Existem outras formas de tratamento como a infiltração com corticóides na região e a fisioterapia com ondas de choque. Essas ações, assim como os remédios antiinflamatórios, não modificam a causa. Quem age, nesse sentido, é o alongamento -, ressalta Antonio Vitor de Abreu, que emenda que o problema tende a voltar nos pacientes que interrompem os alongamentos, ou mesmo que o problema pode melhorar em um pé e aparecer no outro. A intervenção cirúrgica é raríssima, realizada somente em casos em que já se tentaram todas as formas possíveis de tratamento.



O médico declara que o sobrepeso, que é muitas vezes associado ao aparecimento da doença, não é causa e sim um agravante da situação. “Se há o excesso de peso, existe um agravante, um fator a mais. Mas, não é determinante. Muitos pacientes acham que nunca vão resolver o problema por não conseguirem emagrecer. Mas, se o paciente emagrecer e não alongar, não adianta. É preciso agir na causa.”, ressalta o professor Antonio Vitor de Abreu.

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